Campo Grande (MS) – Entrelaçada pelas famílias Modesto, Cardoso e Capitolino, a Comunidade Negra Quilombola Águas do Miranda, reconhecida pela Fundação Palmares, recebeu nesta terça-feira (23) articulações para garantir a remoção das famílias da área de risco, devido as enchentes e ainda a preservação cultural e histórica das pessoas e da comunidade.
O andamento foi garantido em visita do Subsecretário Estadual da Igualdade Racial e Cidadania, Carlos Versoza, em reunião com o vice-prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues e lideranças locais. A comunidade fica localizada na extremidade nordeste do município, distante a 300 quilômetros de Campo Grande, margeando o rio que dá nome ao lugar.
“Com a doação da nova área para a comunidade efetivada pelo município de Bonito, vamos articular junto aos órgãos do Governo do Estado meios para realizar o georreferenciamento da localidade, garantido a ocupação íntegra dos novos 15 hectares. Sem dúvida esse novo local, mais seguro e sem risco de enchentes, será importante para desenvolvermos ainda mais o trabalho de acompanhamento das famílias e incentivo a perpetuação da história e atividade culturais”, ressaltou Versoza.
Presidente da associação da comunidade e diretor da escola local, Valdecir Amorim, enfatizou a presença do Estado na comunidade. “Para nós esse acompanhamento de perto, ainda mais intenso com a criação da Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial e Cidadania (Subpirc) no ano passado, é motivo de muita satisfação e alegria. Estamos sendo, de fato, lembrados e assistidos”, ressalta.
Um outro ponto abordado pelo diretor e que contará com o apoio da Subpirc, será a efetiva implantação de diretrizes que atendam as particularidades quilombolas e ribeirinhas no ensino escolar, como prevê o Plano Nacional de Educação (PNE).
O vice-prefeito de Bonito solicitou apoio da Subpirc, por meio da Secretaria de Estado de Habitação (Sehab), para a construção de casas populares na nova área que atenderá 11 famílias.
Quilombolas de Águas do Miranda
Representada pelo griot – indivíduo que tem o compromisso de preservar e transmitir histórias, fatos históricos e os conhecimentos e as canções de um povo – Amaurílio Modesto, 77 anos, conta que a comunidade surgiu em meados da década de 1950, quando ele veio da Bahia para trabalhar em fazendas do estado.
“Cheguei aqui com 18 anos, ainda moço, para trabalhar nas fazendas e me instalei próximo ao rio, nas terras devolutas do governo. Mesmo assim, com ameaças e até jagunços, fomos expulsos de onde vivíamos, nos restando apenas esse pequeno pedaço. Na época era assim, mesmo a terra sendo de nossa ocupação, fazendeiros da região se apossavam do local. Era sair ou morrer”, conta seu Amaurílio que até hoje guarda o documento da década de 80 no qual abria mão “voluntariamente” de suas terras.
Mais tarde também vieram família de Alagoas e Minas Gerais que integraram comunidade, se instalando no local e também em Anastácio e Nioaque. Hoje basicamente as famílias da região sobrevivem da venda do pescado e da agricultura familiar.
Subpirc – Criada em janeiro de 2015, a Subsecretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial e Cidadania (Subpirc), reforça o compromisso do Governo de Mato Grosso do Sul no combate às desigualdades raciais, dando maior autonomia e poder de ação na execução dos trabalhos. Em 1999, com a Coordenadoria de Combate ao Racismo e, em 2002, com a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, as ações desenvolvidas eram exclusivamente à Governadoria.
Texto e fotos: Leomar Alves Rosa (Assessoria Vice-Governadoria e Sedhast)